Atirei o pau ao gato, o gato não morreu, mas toda a gente se queixou
Para hoje, proponho um exercício de análise das várias perspetivas em torno da música infantil “Atirei o pau ao gato”. Se por um lado pode ser apenas uma canção inocente que serve para entreter crianças, por outro pode ser um forte motivo de contestação que indigna adultos infantis, provocando-me assaz regozijo.
A mais comum e conhecida crítica à dita canção parte dos ferozes defensores dos animais, que afirmam que um pau é capaz de aleijar. Surgiu, portanto, a alternativa de atirar o peixe ao gato…. Exatamente! A solução dos defensores dos animais é atirar a um animal outro animal. A letra da música passa a ser a seguinte: «Atirei o peixe ao gato/ mas o gato não comeu/ Dona Chica admirou-se/ Com o berro que o gato deu». E a minha pergunta é a seguinte: mas que raio de felino é que dá um berro quando lhe atiram um peixe? Será um gato vegan? Será que o peixe estava cheio de óleo e a Dona Chica precisa de uma intervenção do Chef Ljubomir? Será que a refeição do bicho não vinha acompanhada de um suminho detox? É uma questão de ir a uma aula de biodanza ver se encontramos o André Silva do PAN e perguntar-lhe.
Outra perspetiva é a da extrema direita. Surpreendentemente, ainda não se lembraram de criticar a cantiga, mas aqueles cérebros também não dão para mais. No entanto, eu estou cá para manter acesa a chama homofóbica do PNR. Como assim atirar um pau – claramente uma metáfora do pénis – a gato, um mamífero masculino? Será que a canção está a incentivar à homossexualidade das crianças? Será que a Maria José Vilaça e Deus Nosso Senhor – dupla mais famosa da atualidade desde o desmantelamento da dupla Manuel Luís Goucha e Cristina Ferreira – sabem disto? É uma questão de irmos à secção de venda de coletes amarelos da estação de serviço de Aveiras ver se encontramos um grunho qualquer e perguntar-lhe.
O último ponto de vista é a dos defensores do pau. Então ninguém se preocupa com os sentimentos do objeto de arremesso? Para mim, esta é a única perspetiva legítima, porque se há gente que reclama com os móveis quando batem com o mindinho do pé numa das suas esquinas, também a devia haver para defender a pobre da madeira. E se repararem bem, não há pior destino do que ser madeira, porque das três uma: ou se acaba queimada, ou feita em aparas de lápis numa afiadeira de um miúdo baboso da primária ou pior… Nas mãos do Alberto João Jardim…